Perdas de milho por enfezamentos podem passar de 60%; veja como prevenir
Essa é a primeira vez que o impacto do problema está sendo quantificado
As perdas de produtividade em função dos sintomas causados pelos enfezamentos do milho podem chegar a 63% das lavouras, segundo uma pesquisa inédita realizada no Paraná. Essa é a primeira vez que o impacto do problema está sendo quantificado e o resultado é considerado decisivo para orientar produtores, técnicos e empresas de todo o país no enfrentamento das doenças relacionadas ao complexo de enfezamento.
“O problema ocorre nas principais regiões produtoras de milho do Brasil, com maior incidência na segunda safra dos Estados da região Sul”, explica Adriano Custódio, pesquisador fitopatologista do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que participou do estudo.
Ele alerta que é observada maior ocorrência dos enfezamentos na safrinha, que além de concentrar a maior área de milho produzido no país, é alvo do fluxo migratório da cigarrinha-do-milho, vetor das bactérias que causam a doença.
Custódio também ressalta que a ocorrência pode acontecer do início do plantio ao fim do ciclo: “os danos são maiores se a planta for atingida no início do desenvolvimento”. Por isso, é recomendado trabalhar o manejo para que, caso aconteça, seja no final do ciclo. Entre os principais sintomas do enfezamento está o porte reduzido da planta, com má formação da espiga.
“Em algumas regiões, os enfezamentos deixaram de ser uma doença secundária e já representam o principal fator que limita a produção. Quantificar esses danos permite dimensionar o problema e investir no desenvolvimento de tecnologias mais eficientes de manejo”, aponta o pesquisador Deoclécio Domingos Garbuglio, também do IDR-Paraná.
“É importante destacar que as estimativas se referem a perdas médias, pode haver situações específicas em que a queda na produtividade ultrapassa os 90%”, acrescenta.
Estudo
Os pesquisadores analisaram informações obtidas em 2.130 parcelas experimentais distribuídas em 22 ensaios, conduzidos em dez municípios do Paraná ao longo das safras 2022 e 2023. Nos experimentos, todos realizados em condições reais de produção, foram avaliados 72 híbridos, incluindo materiais convencionais e transgênicos.
A severidade da doença foi medida em uma escala de 1 a 6, que considera o percentual de folhas com sintomas típicos dos enfezamentos. Essa escala, amplamente utilizada em trabalhos de melhoramento e fitopatologia, permitiu modelar com precisão a relação entre sintoma e produção.
O modelo estatístico adotado revelou que há relação direta entre severidade dos sintomas e perdas de produtividade - para cada unidade de aumento na escala, a redução média é de 1,04 kg/ha, ou 12,7% de queda; podendo chegar a 63% no nível máximo.
O estudo demonstrou ainda que a incidência e severidade dos enfezamentos foram maiores na safra 2022, coincidindo com produtividades significativamente menores. As condições da segunda safra - plantio tardio e migração de populações da cigarrinha após o término do milho verão - reforçam que esse cenário favorece o aumento da doença ao longo do ciclo.
Medidas de prevenção
Custódio comenta que devem ser adotadas múltiplas ações como prevenção dos enfezamentos do milho. “A principal medida é a escolha de cultivares de milho com maior tolerância ao problema. Lembrando que, em alta pressão, nem esses materiais irão suportar a doença”, frisa.
Outras ações de manejo que devem ser adotadas no campo são eliminar o milho tiguera e as plantas daninhas da lavoura, respeitar o período de semeadura indicado para cada região, monitorar a presença da cigarrinha e aplicar os métodos de controle recomendados para reduzir a população do vetor. Além disso, controlar a colheita e evitar a perda de espigas e de grãos e adotar a rotação de cultivos na área.
O pesquisador recomenda também o tratamento das sementes com inseticidas e a pulverização aérea com produtos químicos e biológicos, sempre com base em orientação agronômica.
Publicação
Um artigo com dados da pesquisa que correlacionou a perda de 63% de produtividade, em média, em função da severidade dos sintomas causados pelos enfezamentos do milho foi publicado no final de novembro no periódico científico European Journal of Plant Pathology.
O texto foi assinado pelos pesquisadores Marcelo Henrique Oliveira Gonçalves e Emerson Medeiros Del Ponte, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e Dionathan Willian Lujan, vinculado ao IDR-Paraná, juntamente com Custódio e Garbuglio.
O milho é a segunda principal cultura de grãos do Brasil e tem crescido de forma contínua graças ao avanço do sistema de safras múltiplas. Segundo dados do próprio artigo, o país respondeu por 11% da produção mundial de milho em 2024/25, ocupando a 3ª posição global, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
O Paraná é o segundo maior produtor nacional, responsável por cerca de 26% da produção brasileira. A ocorrência dos enfezamentos não é registrada nos outros dois países que lideram o ranking.
Fonte. https://globorural.globo.com/agricultura/milho/noticia/2025/12/perdas-de-milho-por-enfezamentos-podem-passar-de-60percent-veja-como-prevenir.ghtml
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