UE mantém recall de carnes da JBS após detectar hormônio proibido em cargas
Produtos eram provenientes de uma unidade da empresa localizada em Campo Grande
Lotes de carne bovina brasileira que chegaram à União Europeia foram alvo de recall determinado pela Comissão Europeia, após a detecção nas cargas de resquícios de estradiol, um hormônio reprodutivo utilizado na fertilização de fêmeas e que é proibido no bloco.
A carne teve a retirada do varejo solicitada em meados de novembro e permanece com a comercialização impedida, conforme apurou o Valor. Os produtos eram provenientes de uma unidade da JBS localizada em Campo Grande (MS).
Em nota, a JBS disse que a companhia foi informada pelo Ministério da Agricultura sobre a suspensão tanto da certificadora quanto da fazenda relacionada ao lote em questão e imediatamente deixou de exportar produtos desse fornecedor para a Europa. "A JBS cumpre rigorosamente o protocolo para a exportação de carne bovina para a Europa, atuando apenas com fazendas e certificadoras aprovadas pelo Ministério da Agricultura", afirmou a empresa.
A companhia observou que "trabalha com o mercado europeu há 30 anos e continua exportando normalmente, atendendo a todos os requisitos necessários". O lote, disse a JBS , é de 20 toneladas, o equivalente a "menos que um contêiner", e "representa 0,025% do que o país remeteu para o mercado europeu de janeiro a novembro deste ano".
O Ministério da Agricultura do Brasil enviou ofícios ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa) de Campo Grande, indicando que recebeu notificações de Itália, Holanda e Espanha de suspeitas de carga com resíduos do hormônio.
“Recebemos, por meio da notificação (...) a comunicação de suspeita de carga de carne congelada de bovino sem osso de animais tratados (com estradiol) produzida pelo estabelecimento JBS, sob SIF 1662”, dizem os documento aos quais o Valor teve acesso.
O ministério ainda ressaltou que a notificação europeia tem relação com falha observada pelos auditores europeus em recente auditoria realizada no Brasil.
“Solicitamos ao Sipoa que demande ao estabelecimento investigação que identifique a causa do desvio notificado, as medidas corretivas de caráter imediato e permanente, as medidas preventivas e os prazos para a implantação das medidas de controle, com obrigatório preenchimento do Relatório de Investigação, Avaliação de Causa/Efeito e Plano de ação”, afirma o ministério no ofício.
Uma fonte com conhecimento sobre o assunto disse que as medidas estão “dentro dos protocolos oficiais internacionais das autoridades sanitárias competentes”.
Sem dar detalhes, outra fonte ressaltou que o volume de carne que faz parte do recall é ínfimo, perto da quantidade exportada pelo país, abaixo de 1%.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não respondeu a pedidos de comentários até a publicação deste texto. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) não comentou o assunto.
Alguns dos países da UE afetados pelo recall da carne são Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, República Tcheca, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda e Eslováquia.
O Reino Unido (incluindo a Irlanda do Norte) também está entre os países afetados, informou a RTÉ, órgão oficial de comunicação da Irlanda.
Controle sanitário
A Associação de Agricultores Irlandeses (IFA, na sigla em inglês) afirmou ao RTÉ que o recall de carne bovina brasileira levanta questões sobre os controles sanitários do Brasil.
O presidente da IFA, Francie Gorman, disse que o caso de recall deve servir de alerta aos parlamentares que defendem aprovar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Para ele, o acordo traria benefícios à indústria, mas em detrimento dos agricultores europeus.
Em geral, o agronegócio da UE é contrário a flexibilizações de comércio entre os dois blocos.
A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, lembrou que, no ano passado, também houve um debate sobre o estradiol, que é um hormônio reprodutivo utilizado na fertilização de fêmeas.
Ela observou que a carga residual de estradiol em carnes exportadas costuma ser ínfima, do ponto de vista de impacto para a saúde, porque o abate ocorre muito após sua aplicação, que só acontece com o animal em idade reprodutiva. Além disso, não se trata de um hormônio promotor de crescimento.
A legislação brasileira, por meio da Instrução Normativa nº 17/2004 do Mapa, veta o uso de promotores de crescimento (hormônios) na produção animal brasileira.
Lígia Pimentel também ressaltou que o Brasil já passou por outros eventos relativos a resíduos antes, que não envolviam hormônios promotores de crescimento, uma vez seu uso é proibido no Brasil.
“Ainda neste ano a China levantou preocupações após identificar fluazuron nas cargas, mas esse não é um hormônio, e sim um ectocida (carrapaticida)”, disse.
Fonte. https://globorural.globo.com/pecuaria/boi/noticia/2025/12/ue-mantem-recall-de-carnes-da-jbs-apos-detectar-hormonio-proibido-em-cargas.ghtml
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