Em Goiás, lideranças do agro querem logística e energia como prioridades
Investimentos em infraestrutura estão entre os que mais poderão acelerar o desenvolvimento da agropecuária goiana, disseram participantes do ‘Vozes do Agro’
Os investimentos em logística e energia são os que mais podem ajudar a acelerar o desenvolvimento do agronegócio em Goiás, segundo participantes do “Vozes do Agro”, evento que a “Globo Rural” realizou ontem em Goiânia. Os comentários sobre infraestrutura foram os mais recorrentes nas manifestações de produtores rurais, empresários, pesquisadores, dirigentes de entidades de classe e outras lideranças do agro local.
Os problemas e limitações de rodovias, ferrovias, portos e estruturas de armazenagem são uma queixa habitual do agro em todo o país, assim como são recorrentes as críticas ao custo e à oferta de energia. Mas o evento em Goiânia mostrou que, para lideranças do agro do Estado, essas áreas têm que ter prioridade nas decisões sobre investimentos públicos e privados.
Goiás está no coração do Brasil, longe dos portos por onde escoamos nossa produção. Ainda assim, os projetos de ferrovias não avançam”, resumiu um dos participantes. “Precisamos estimular os investimentos não só em estradas, mas também em ferrovias e hidrovias”, disse outro.
Em Goiânia, o “Vozes” manteve a dinâmica das edições do evento que a “Globo Rural” organizou em São Paulo em 2024 e 2025: os debates ocorreram com o compromisso de que não se revelaria os autores dos comentários. A ideia, com isso, é efetivamente estimular o debate, sem que os participantes tenham receio com a leitura que outras pessoas farão sobre suas observações.
Ainda em análise sobre as deficiências da logística em Goiás, um dos participantes observou que o Estado é hoje um dos mais importantes produtores de commodities agrícolas do país, mas que isso não significa que as limitações logísticas afetam apenas a cadeia de produção de itens como soja e milho. “Nós temos um representante da citricultura, por exemplo, que comentou que sofre para transportar sua carga, que é perecível. Com essas estradas, existe sempre o risco de se perder a produção no transporte”, disse.
Nas avaliações sobre energia, os comentários foram tanto sobre o alto custo quanto sobre os problemas para ter energia suficiente para produtores rurais, empresas e cooperativas. “Nós sabemos do caso de um investidor que não consegue levar adiante o projeto de uma planta industrial por falta de energia elétrica na região”, contou um dos participantes.
Outro observou como essas limitações impedem o Estado de fazer valer alguns de seus diferenciais competitivos. “Temos muitas usinas de cana-de-açúcar investindo em cogeração, mas, por problemas de energia, acabam tendo que ligar geradores a diesel. Não faz sentido algum”, afirmou.
Os debates do “Vozes do Agro” ocorrem em mesas compostas por oito a dez pessoas. Nessas conversas, os participantes discutem algumas das frentes em que o agro precisa evoluir, mas também tentam apresentar soluções para os problemas que detectam.
Para uma das participantes, o agro de Goiás pode já ter a resposta para um dos problemas que se discutiu nas mesas. “Nós precisamos investir ainda mais na cadeia de biocombustíveis. Essa já é uma força do nosso agro, com a produção de etanol de cana e também de milho. Com mais biocombustíveis, vamos consumir mais do grão que já produzimos no Estado, o que é um reforço à agroindústria. Nós já estamos utilizando os dejetos da produção no campo para gerar energia, e podemos crescer também nessa frente. E, além disso, os biocombustíveis podem nos colocar na dianteira dos esforços em sustentabilidade”, observou.
Assim como nas duas edições paulistanas do “Vozes”, a comunicação também apareceu com frequência nos comentários dos participantes. Segundo as análises, o setor ainda tem dificuldades para comunicar seus pontos fortes e atestar seus diferenciais sustentáveis para a população que não está no dia a dia da produção agropecuária. “Para combater o preconceito [com o agro], temos que mostrar o que de fato acontece no setor”, disse um dos debatedores.
Uma das participantes concordou com a análise, mas, para propor soluções, também sugeriu que o setor avalie o modo como fala com outros integrantes da cadeia. “Nós temos uma polarização muito grande no agro. Precisamos nos despir dos preconceitos e realmente ouvir os outros quando se manifestam. Precisamos colaborar mais e guerrear menos”, afirmou. (Com reportagem de Danton Boatini Júnior, Gabriella Weiss, Izabel Gimenez, Luciana Franco, Marcos Fantin, Maria Emília Zampieri, Nayara Figueiredo, Rafael Walendorff e Raphael Salomão, de Goiânia)
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